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quarta-feira, 23 de abril de 2014

A LENDA DA ORQUÍDEA !!






Como muitas flores, 
a orquídea tem uma lenda. 


Eis a encantadora história, 
como é contada nas terras 
da Indochina.


Na cidade de Anam
existia uma jovem chamada Hoan-Lan
que divertia-se em fazer 
penar suas paixões 
aos seus numerosos adoradores.


Por um sorriso, 
o jovem Kien-Fu tinha cinzelado 
o ouro mais fino 
e trabalhado com infinita paciência 
as mais lindas peças de jade. 

A ingrata, 
após se adornar 
com todos os presentes 
do nobre apaixonado, 
riu-se dele e o desprezou.

Kien-Fu, desesperado, 
acabou com a própria vida 
atirando-se ao Rio Vermelho. 


O pintor Nguyen-Ba 
conseguiu obter cores desconhecidas 
para pintar o retrato de sua amada.


Esta, porém, 
depois de ter exibido 
para a satisfação 
de sua vaidade 
a magnífica pintura, 
desprezou o artista 
que desapareceu para sempre 
no mistério das selvas.


Mai-Da
apaixonado também, 
quis patentear seu amor 
à jovem volúvel, 
inventando um perfume delicioso 
somente digno dos anjos. 

A ingrata perfumou-se 
e mandou pôr na rua 
o seu adorador que, 
nada mais aspirando na vida, 
se envenenou. 


Cung-Le levou sua perseverança 
a incrustar nácar 
numa pulseira de ébano 
que foi recebida pela ingrata. 
O pobre endoideceu. 


Mas o poderoso 
Deus das Cinco Flechas
que a tudo via 
e tudo ordenava, 
julgou que era o momento 
de castigar tanta maldade, 
fazendo a jovem volúvel 
apaixonar-se 
pelo formoso Mun-Cay.



E desde então, 
Hoan-Lan sonhava 
no seu leito de nácar 
e sedas bordadas 
com seu adorado, 
cujo nome esvoaçava 
sobre seus lábios de carmim, 
como uma borboleta sobre a rosa. 

Ao despertar, descia à piscina, 
banhava-se e adornava-se 
com suas jóias mais preciosas 
para ver passar seu querido Mun-Cay
que apenas se dignava 
a levantar os olhos para ela. 

Nunca tinha considerado 
a formosa jovem, 
nem se interessado 
pela fama de beleza 
que tinha ardido à sua volta. 


Os dias iam passando, 
Mun-Cay não saía 
de sua indiferença cruel. 

Um dia, Hoan-Lan 
decidiu sair-lhe ao encontro 
e declarar-lhe paixão. 

Não me interessas, rapariga ! 
- disse ele. 
- És como todas as outras. 

Para mim não vales nada. 
Se fosses como aquela que eu amo... 
Esta sim, é uma deusa. 
Tu, mísera Hoan-Lan
com toda tua vaidade, 
não serves nem para atar-lhe 
as fitas das sandálias. 
E, com um sorriso desdenhoso, 
afastou-se. 


Em meio de seu desespero, 
Hoan-Lan lembrou-se 
do Deus Todo Poderoso 
que vivia na montanha de Tan-Vien

Talvez ele pudesse lhe valer. 

Apesar da noite escura e chuvosa, 
a jovem dirigiu-se ao monte sagrado, 
onde residia sua última esperança. 

A entrada do templo subterrâneo 
era guardada por um terrível dragão. 

Suplicou-lhe a concessão de entrada 
e ao cabo de muitos pedidos 
conseguiu penetrar num extenso corredor, 
por entre serpentes horríveis 
que lhe babujavam os pés nus. 


Quando chegou junto 
ao trono de ônix 
do poderoso gênio
prostrou-se e implorou : 


Cura-me, 
que sofro horrorosamente
Amo Mun-Cay que me despreza.


É justo o castigo 
- respondeu o deus 
- Porque isso mesmo tens feito 
aos teus apaixonados.


Ó Todo Poderoso, 
tem dó de mim. 

Concede-me o amor 
de meu querido Mun-Cay

Sabes bem que não posso 
viver sem ele.


Vai-te daqui 
- rugiu o gênio 
- Nada conseguirás. 


O castigo que pesa sobre ti, 
foi imposto pelo 
Deus das Cinco Flechas
que tudo sabe. 

É justo que sofras. 
Saia do meu templo. 


Á saída, 
Hoan-Lan encontrou-se 
com uma bruxa 
de pés de cabra. 


Formosa jovem 
- disse-lhe a bruxa 
- sei que és muito desgraçada. 

Queres vingar-se de Mun-Cay 

Vende-me a tua alma 
e juro-te que, 
embora Mun-Cay não te ame, 
não amará a outra mulher. 


Hoan-Lan
voltou à sua casa, 
que lhe parecia um cárcere. 

Saía para os bosques 
a distrair sua pena, 
mas sempre em vão. 

Um dia, 
vendo ao longe 
seu adorado Mun-Cay
correu para ele e, 
quando se preparava para abraçá-lo, 
o jovem foi transformado 
numa árvore de ébano


Neste momento 
apareceu a bruxa que, 
soltando uma gargalhada, 
lhe disse: 
- Desta maneira o teu amado 
não pode ser nunca 
de outra mulher. 


Bruxa infame, 
exclamou chorando, 
a pobre Hoan-Lan 
- o que fizeste a meu adorado ? 
Devolva-me ou mate-me. 

Contratos são contratos 
- replicou a bruxa, 
rindo satanicamente

Cumpri o que prometi. 
Mun-Cay
embora nunca te ame, 
não amará a outra mulher. 

Prometi e cumpri. 
A tua alma me pertence. 


Hoan-Lan
abraçada ao pé da árvore, 
clamava desesperadamente 
a seu tronco imóvel. 

Perdoa-me, Mun-Cay
Tem para mim uma só palavra de amor, 
de indulgência e compaixão. 

Não vês como me arrasto aos seus pés, 
como te abraço, como sofro ! 


Mas a árvore nada respondia. 
A jovem ali ficou por muito tempo. 


Uma manhã passou por ali 
um gênio que se compadeceu 
da sua dor. 

Acercando-se dela, 
pôs-lhe um dedo na testa 
e disse : 


Mulher, 
procedeste muito mal. 
Foste volúvel 
até a crueldade 
e ingrata até a malvadez. 

Procedeste muito mal. 

Mas tua dor 
purificou a tua alma. 

Estás perdoada 
e vais deixar de sofrer. 

Antes que a bruxa venha 
buscar a tua alma, 
vou transformar-te numa flor.



Ficarás sendo, 
no entanto, 
uma flor esquisita e requintada, 
que dê a impressão 
do que foi a tua vida maldosa


Quem vir as tuas pétalas 
facilmente adivinhará 
o que foi o teu espírito, 
caprichoso, volúvel, cruel, 
e a tua preocupação constante 
pela elegância. 


Concedo-te um bem : 
não te separarás 
do bem que adoras 
e viverás da sua seiva, 
sempre parasita do teu amado. 


Assim falou o poderoso gênio

E, quando falava, 
a túnica rósea 
de Hoan-Lan 
ia empalidecendo 
e tornando-se 
de uma delicada cor lilás. 


Os olhos da jovem brilharam 
como pontos de ouro 
e as suas carnes 
tomaram a tonalidade do nácar


Os seus formosos braços 
enrolaram-se na árvore 
na derradeira súplica. 


E assim apareceu 
a primeira orquídea do mundo, 
segundo a lenda do Anam.












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