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Como muitas flores,
a orquídea tem uma lenda.
Eis a encantadora história,
como é contada nas terras
da Indochina.
Na cidade de Anam,
existia uma jovem chamada Hoan-Lan,
que divertia-se em fazer
penar suas paixões
aos seus numerosos adoradores.
Por um sorriso,
o jovem Kien-Fu tinha cinzelado
o ouro mais fino
e trabalhado com infinita paciência
as mais lindas peças de jade.
A ingrata,
após se adornar
com todos os presentes
do nobre apaixonado,
riu-se dele e o desprezou.
Kien-Fu, desesperado,
acabou com a própria vida
atirando-se ao Rio Vermelho.
O pintor Nguyen-Ba
conseguiu obter cores desconhecidas
para pintar o retrato de sua amada.
Esta, porém,
depois de ter exibido
para a satisfação
de sua vaidade
a magnífica pintura,
desprezou o artista
que desapareceu para sempre
no mistério das selvas.
Mai-Da,
apaixonado também,
quis patentear seu amor
à jovem volúvel,
inventando um perfume delicioso
somente digno dos anjos.
A ingrata perfumou-se
e mandou pôr na rua
o seu adorador que,
nada mais aspirando na vida,
se envenenou.
Cung-Le levou sua perseverança
a incrustar nácar
numa pulseira de ébano
que foi recebida pela ingrata.
O pobre endoideceu.
Mas o poderoso
Deus das Cinco Flechas,
que a tudo via
e tudo ordenava,
julgou que era o momento
de castigar tanta maldade,
fazendo a jovem volúvel
apaixonar-se
pelo formoso Mun-Cay.
E desde então,
Hoan-Lan sonhava
no seu leito de nácar
e sedas bordadas
com seu adorado,
cujo nome esvoaçava
sobre seus lábios de carmim,
como uma borboleta sobre a rosa.
Ao despertar, descia à piscina,
banhava-se e adornava-se
com suas jóias mais preciosas
para ver passar seu querido Mun-Cay,
que apenas se dignava
a levantar os olhos para ela.
Nunca tinha considerado
a formosa jovem,
nem se interessado
pela fama de beleza
que tinha ardido à sua volta.
Os dias iam passando,
e Mun-Cay não saía
de sua indiferença cruel.
Um dia, Hoan-Lan
decidiu sair-lhe ao encontro
e declarar-lhe paixão.
Não me interessas, rapariga !
- disse ele.
- És como todas as outras.
Para mim não vales nada.
Se fosses como aquela que eu amo...
Esta sim, é uma deusa.
Tu, mísera Hoan-Lan,
com toda tua vaidade,
não serves nem para atar-lhe
as fitas das sandálias.
E, com um sorriso desdenhoso,
afastou-se.
Em meio de seu desespero,
Hoan-Lan lembrou-se
do Deus Todo Poderoso
que vivia na montanha de Tan-Vien.
Talvez ele pudesse lhe valer.
Apesar da noite escura e chuvosa,
a jovem dirigiu-se ao monte sagrado,
onde residia sua última esperança.
A entrada do templo subterrâneo
era guardada por um terrível dragão.
Suplicou-lhe a concessão de entrada
e ao cabo de muitos pedidos
conseguiu penetrar num extenso corredor,
por entre serpentes horríveis
que lhe babujavam os pés nus.
Quando chegou junto
ao trono de ônix
do poderoso gênio,
prostrou-se e implorou :
Cura-me,
que sofro horrorosamente.
Amo Mun-Cay que me despreza.
É justo o castigo
- respondeu o deus
- Porque isso mesmo tens feito
aos teus apaixonados.
Ó Todo Poderoso,
tem dó de mim.
Concede-me o amor
de meu querido Mun-Cay.
Sabes bem que não posso
viver sem ele.
Vai-te daqui
- rugiu o gênio
- Nada conseguirás.
O castigo que pesa sobre ti,
foi imposto pelo
Deus das Cinco Flechas,
que tudo sabe.
É justo que sofras.
Saia do meu templo.
Á saída,
Hoan-Lan encontrou-se
com uma bruxa
de pés de cabra.
Formosa jovem
- disse-lhe a bruxa
- sei que és muito desgraçada.
Queres vingar-se de Mun-Cay ?
Vende-me a tua alma
e juro-te que,
embora Mun-Cay não te ame,
não amará a outra mulher.
Hoan-Lan,
voltou à sua casa,
que lhe parecia um cárcere.
Saía para os bosques
a distrair sua pena,
mas sempre em vão.
Um dia,
vendo ao longe
seu adorado Mun-Cay,
correu para ele e,
quando se preparava para abraçá-lo,
o jovem foi transformado
numa árvore de ébano.
Neste momento
apareceu a bruxa que,
soltando uma gargalhada,
lhe disse:
- Desta maneira o teu amado
não pode ser nunca
de outra mulher.
Bruxa infame,
exclamou chorando,
a pobre Hoan-Lan
- o que fizeste a meu adorado ?
Devolva-me ou mate-me.
Contratos são contratos
- replicou a bruxa,
rindo satanicamente.
Cumpri o que prometi.
Mun-Cay,
embora nunca te ame,
não amará a outra mulher.
Prometi e cumpri.
A tua alma me pertence.
Hoan-Lan,
abraçada ao pé da árvore,
clamava desesperadamente
a seu tronco imóvel.
Perdoa-me, Mun-Cay.
Tem para mim uma só palavra de amor,
de indulgência e compaixão.
Não vês como me arrasto aos seus pés,
como te abraço, como sofro !
Mas a árvore nada respondia.
A jovem ali ficou por muito tempo.
Uma manhã passou por ali
um gênio que se compadeceu
da sua dor.
Acercando-se dela,
pôs-lhe um dedo na testa
e disse :
Mulher,
procedeste muito mal.
Foste volúvel
até a crueldade
e ingrata até a malvadez.
Procedeste muito mal.
Mas tua dor
purificou a tua alma.
Estás perdoada
e vais deixar de sofrer.
Antes que a bruxa venha
buscar a tua alma,
vou transformar-te numa flor.
Ficarás sendo,
no entanto,
uma flor esquisita e requintada,
que dê a impressão
do que foi a tua vida maldosa.
Quem vir as tuas pétalas
facilmente adivinhará
o que foi o teu espírito,
caprichoso, volúvel, cruel,
e a tua preocupação constante
pela elegância.
Concedo-te um bem :
não te separarás
do bem que adoras
e viverás da sua seiva,
sempre parasita do teu amado.
Assim falou o poderoso gênio.
E, quando falava,
a túnica rósea
de Hoan-Lan
ia empalidecendo
e tornando-se
de uma delicada cor lilás.
Os olhos da jovem brilharam
como pontos de ouro
e as suas carnes
tomaram a tonalidade do nácar.
Os seus formosos braços
enrolaram-se na árvore
na derradeira súplica.
E assim apareceu
a primeira orquídea do mundo,
segundo a lenda do Anam.
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